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Durante esta primeira semana de retorno presencial as crianças do espaço ekoa encontraram diversos ambientes novos: areia, deque expandido, novo portão de entrada, gramado com inclinação, fonte e uma sala ampla, com novas portas no lugar das antigas paredes e janelas. Em outra ocasião, escrevi o texto “O espaço é a concepção” . Agora gostaria de relatar uma cena que reforça a ideia do quanto a arquitetura está relacionada ao conhecimento do corpo, do gesto e do movimento das crianças.

Nestes primeiros momentos de acolhimento, ao invés de propor brincadeiras, tenho observado e interagido de forma mais livre e aberta, considerando as reações das crianças e aquilo que surge no presente. Nesta relação, a possibilidade de uma brincadeira com música, com regra ou com representação depende de cada encontro.

Um destes encontros me deixou impactado, pois materializou o entendimento do espaço através das descobertas e das possibilidades corporais. Uma criança, que até então não estava tão interessada na minha presença, começou a interagir comigo atirando objetos na minha direção. Ao invés de repreendê-la, passei a correr dela em círculos, saindo e entrando pelas passagens da sala. Aos risos, ela deve ter dado umas vinte voltas atrás de mim. De repente, sem que dissesse nada, ela parou e decidiu mudar de sentido, pois percebeu que seria uma forma de conseguir me pegar. Imediatamente, também parei e começamos a rir. Quando ela percebia que estava muito difícil de me alcançar tornava a parar e mudar de sentido novamente. Devemos ter ficado nesta brincadeira uns cinco minutos, explorando as possiblidades de idas e vindas, até que num determinado instante ela percebeu que havia entre as duas passagens uma porta que encurtaria a sua trajetória até mim. Sem titubear, ela atravessou e me pegou. Demos mais risadas.

O que me encantou nesta brincadeira foi como essa criança conheceu esse novo espaço através do corpo e do movimento. Como a configuração de um salão amplo, sem paredes e com muitas possibilidades de integração com o ambiente externo, possibilita e convida à corrida em círculo. Como a linguagem corporal, permeada pelo lúdico, é poderosa e suficiente para a compreensão dos espaços, dos materiais e dos deslocamentos. Ao final da brincadeira a minha sensação era de que, dialogando corporalmente, consegui tocar na inteligência daquela criança, e que, além de um espaço esteticamente maravilhoso, o espaço ekoa é um lugar muito potente para um corporeidade ativa, diversificada e inteligente.

Por Prof. Marcos Santos Mourão (Marcola)