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Quando uma família procura uma escola de Educação Infantil para a sua criança, ela procura se informar sobre a proposta pedagógica, os princípios e valores, a formação dos(as) educadores(as), o que é oferecido, qual o horário de funcionamento, dentre outras informações. Sabemos que tudo isto é relevante, mas ressaltamos a importância de se verificar como o espaço físico é organizado e utilizado no dia a dia com as crianças. 

Escolas que reservam espaços compartimentalizados, com diversos portões que restringem o acesso, com salas fechadas, sem comunicação para o ambiente externo, com pilastras revestidas por isopor, paredes ou chão acolchoados, revelam a ideia de uma criança frágil, pouco potente, da qual se espera pouca autonomia corporal. Por outro lado, escolas que apresentam espaços que se intercomunicam, sem ambientes rígidos para cada idade, com diferentes tipos de pisos, rampas, degraus, e que convidam as crianças a explorá-los, revelam a compreensão de uma criança ativa, livre, com alta capacidade de percepção e relação. 

 Certa vez, uma família que estava conhecendo o Espaço disse que tinha gostado bastante de tudo o que viu, menos do chão, pois era muito duro para as crianças e que nem todas as quinas eram arredondadas. Provavelmente, na lógica desta família, cabe à escola não expor a criança a nenhum tipo de risco, pois ela tem poucos recursos e condições de se defender. Entretanto, em nossa visão de criança, consideramos que ao isentá-las do cuidado consigo mesmas, elas terão mais dificuldade em aprender e avaliar o risco que um tombo ou uma trombada oferece, provavelmente desenvolvendo menos recursos de proteção. Com isto não estamos afirmando que não devam existir cuidados e prevenções para a segurança das crianças. Queremos apenas realçar que é importante que as escolas ofereçam espaços desafiadores, que darão oportunidades reais para o conhecimento do corpo e da capacidade de se movimentar com qualidade.

Aqui no Espaço, as crianças são permanentemente convidadas a uma ação curiosa, livre e autônoma, que revela uma concepção de infância ativa, que permite que sejam plenas e mais saudáveis. Por isto, as crianças circulam pelos ambientes sem salas fixas, descem a rampa de motoca, transpõem módulos de madeira, sobem e descem degraus, se penduram na corda entre as árvores, exploram o chão, enfim, ao longo da rotina têm a possibilidade de experimentar diferentes formas de deslocamento, de controle do próprio corpo e movimento, que colaboram para o desenvolvimento de recursos de  proteção de mais qualidade. Como diz uma canção de capoeira: “Cai, cai, cai, caiê, quem nunca caiu, nunca vai aprender”. 

Por Marcos Santos Mourão (Marcola)