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Diante dos sensacionalismos cibernéticos, como as famílias podem saber o que é adequado ou não do ponto de vista do desenvolvimento motor infantil?

Temos, nos dias atuais, nos deparado com inúmeras abordagens sobre o desenvolvimento motor infantil. Num mundo cada vez mais conectado, as informações circulam e alcançam números que ultrapassam a fronteira de milhões de visualizações. Vídeos de crianças pequenas, e até mesmo bebês, com habilidades incríveis escalando paredes, jogando futebol, dançando, lutando, fazendo ginástica, arremessando bola à cesta, com a performance vista em pouquíssimas pessoas adultas, circulam como se fossem algo esperado e desejável para a faixa etária.  Como isso é possível? Será que estamos estimulando corretamente nossas crianças? O que pode ser considerado, do ponto de vista motor, adequado ou não, para a criança na infância?

Antes de tudo, é importante entendermos o desenvolvimento motor como um processo sequencial, contínuo, relacionado à idade, no qual um indivíduo progride de movimentos simples para habilidades motoras altamente organizadas e complexas e, finalmente, para o ajuste destas habilidades que acompanham o envelhecimento. Esse processo de mudança é controlado e regulado por fatores internos (genética) e externos ao organismo (ambiente). A genética incide nas mudanças estruturais do sistema nervoso e muscular. O ambiente, nas experiências corporais que serão oferecidas. Hoje sabemos que limites hipotéticos de realização são estabelecidos pelos genes, mas é o ambiente que determina a extensão com que as potencialidades motoras são desenvolvidas. E é sobre esse ambiente, que incide numa corporeidade suficientemente boa para a infância, que iremos tratar aqui.

As experiências corporais que trazem um excesso de controle, imobilidade, excesso de estímulos sem sentido ou significado, geram respostas vazias e inadequadas para a criança. Servem, quando muito, para o entretenimento do adulto.

Crianças na infância devem ter oportunidades de explorar, descobrir e combinar seus movimentos, sem expectativas de performance. Precisam de tempo, material (nada sofisticado), pessoas e espaço suficientes para brincar. Aprender a brincar e se divertir com o próprio corpo e movimento é essencial para o desenvolvimento.

E se o papel do adulto não é invadir e desrespeitar esse processo, qual será então?

Aprender a brincar e se divertir com o próprio corpo e movimento é essencial para o desenvolvimento motor infantil. E se o papel do adulto não é invadir e desrespeitar esse processo, qual será então?

Primeiramente, não devemos esquecer que quem oferece, organiza, altera e diversifica o ambiente para a criança é o adulto. Se ele tiver o olhar para a autonomia corporal, sabendo que esta autonomia parte dele próprio, as crianças possivelmente terão condições suficientes para um bom desenvolvimento.

Mas há algo a mais que o adulto pode oferecer, sem que a criança seja desconsiderada. Trata-se da cultura corporal que através das manifestações da dança, dos jogos, da ginástica, dos esportes e das lutas construíram gestos que nos identificam e nos definem como humanos. Para que isso ocorra, é essencial que a criança seja convidada a participar das atividades da sua forma, do seu jeito, sem que atenda a uma demanda de resultado ou de apresentação. É a cultura oferecida pelo adulto que irá trazer mais oportunidades de prática, aumentando o repertório de gestos nesta importante fase dos movimentos.

É isso que temos oferecido aqui no espaço ekoa, através das aulas de corpo e movimento que ocorrem semanalmente. Nelas, as crianças andam, correm, pulam, deitam, rolam, engatinham, se arrastam, galopam, ficam de cabeça para baixo, enquanto cantamos e dançamos. Algumas brincadeiras também são oferecidas ao longo deste trabalho. Acreditamos que essa proposta, aliada aos momentos livres de brincadeira e exploração, de circuitos, e até mesmo de algumas brincadeiras dirigidas (poucas), contribuem para uma corporeidade suficientemente boa na primeira infância.

por Marcos Santos Mourão (Marcola)