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Tanto na minha vida pessoal, como na profissional lido diariamente com dúvidas, certezas, discussões, angústias e alegrias relacionadas à maternidade.

Antes de ser mãe, por exemplo, tinha certeza de que os filhos que iria ter nunca se jogariam no chão em público, que bastaria explicar os motivos para que aceitassem com tranquilidade a impossibilidade de fazerem algo perigoso, numa lista com as melhores intenções sobre como evitar as frustrações e contrariedades das crianças.

Porém, assim que nasceram, me dei conta de que cada um deles tinha ideias (im)… ops… próprias (será que são mesmo próprias?) sobre muitas coisas e por vezes, divergentes das minhas. Apesar de ser difícil lidar com isso, logo descobri que era possível aprender com eles, novas formas de ver e experimentar o mundo, algumas vezes mais leves e outras vezes mais intensas e turbulentas.

No dia a dia como educadora, sempre tenho boas conversas com pais e mães sobre suas descobertas e dúvidas, trocamos ideias sobre maneiras de contornar as dificuldades do cotidiano e partilhamos do encantamento frente suas conquistas.

Enfim, questões como estas estão sempre presentes na minha vida. Talvez não por acaso, minhas duas últimas leituras literárias giram em torno desta temática. A primeira delas, antecede a maternidade e a segunda traz a paternidade interrompida pela morte.

Os dois livros são densos, com textos construídos de forma não linear e fragmentados, narrados em primeira pessoa. No primeiro deles, Maternidade: um romance, de Sheila Heti, da editora Companhia das Letras, o enredo gira em torno da dúvida de uma mulher próxima de completar quarenta anos sobre ser ou não mãe. Ela lança perguntas ao I Ching, conversa com seu companheiro e suas amigas, revisita sua infância e questiona a maternagem recebida de sua mãe. Durante a leitura, o que menos importou para mim foi saber se ao final a personagem iria engravidar ou não, foram as dúvidas, observações sobre o sentido e significado da maternidade que mais me instigaram.

No livro O pai da menina morta, de Tiago Ferro, da Editora Todavia, a densidade da leitura é impactante, entrar em contato com o maior medo que temos depois que nos tornamos pais e mães, é um mergulho em algo que não queremos nunca experimentar. Não é um livro tranquilo de ler, mas tem me ajudado pensar em coisas a serem feitas, vividas e construídas na relação com meus filhos.

A quem se aventurar por estas páginas, desejo uma ótima leitura.

 

Por Ana Paula Yazbek