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Num final de tarde de domingo, quando meus filhos eram pequenos, meu filho menor saiu rapidamente do quarto que dividia com a irmã, após ter brincado muito tempo sozinho, e bateu a porta com força. Ao se encontrar comigo e com seu pai na sala tentou desviar a nossa atenção, mas não conseguiu, pois fomos direto ao quarto e vimos que estava MUITO bagunçado, com quase todos os brinquedos espalhados pelas camas e pelo chão. Então, saímos de lá e dissemos que ele precisava guardar os brinquedos nos cestos e quando tivesse guardado uma boa parte, ele poderia nos chamar para ajudá-lo. Prontamente ele entrou no quarto, mas um minuto depois saiu, fechando a porta bruscamente e falando com a voz mais fofa do mundo “Mãe, pai, não pode entrar no meu quarto, porque um rato muito feroz entrou lá e bagunçou tudo!”. Segurando o riso, dissemos que o rato já devia ter ido embora, e voltamos a pedir que guardasse uma parte dos brinquedos e o acompanhamos desde o princípio, recolhendo a maior parte dos brinquedos. Além de render uma história graciosa para nossa família, até hoje convivemos com este “rato terrível” que teima em entrar em seu quarto (aos dezessete anos!). O curioso é que este “bichinho” não entrou mais no quarto da irmã após cada um passar a dormir em cômodos separados.

Prontamente ele entrou no quarto, mas um minuto depois saiu, fechando a porta bruscamente e falando com a voz mais fofa do mundo “Mãe, pai, não pode entrar no meu quarto, porque um rato muito feroz entrou lá e bagunçou tudo!”.

Já buscamos muitas explicações para esta diferença: seria questão de gênero (ou mesmo um modelo machista de educar filhos); fomos permissivos demais; seria um jeito dele demarcar seu território e as diferenças em relação ao resto da família; seria praga de sogra (ops!) ou seria tudo isso junto e misturado?

Bom, ainda buscamos estas respostas, mas quis partilhar esta história particular, pois fui questionada sobre como agir quando a criança se recusa a arrumar os brinquedos que espalha pela casa e, principalmente, quando ela os arremessa de propósito.

Por uma feliz coincidência, recentemente li num livro, As origens do brincar livre, editora Omnisciência[1], dirigido prioritariamente para educadores e que contém algumas orientações para conseguir envolver as crianças pequenas na organização dos materiais. Em primeiro lugar, as autoras disseram que cabe aos adultos a organização e que as crianças podem participar com uma pequena parte destas tarefas. Depois, elas sugerem que pensemos sobre a quantidade de brinquedos, objetos e materiais que elas têm disponíveis (o que nos contextos domésticos, costuma ser excessivo, não é mesmo?) e a partir daí, propõem que se faça uma seleção destes materiais, deixando uma quantidade menor disponível para o uso diário e se estabeleça critérios para colocar à mostra os demais (ex. brinquedo para usar aos finais de semana, retirada/doação de brinquedos pouco utilizados e substituição por outros que estejam guardados, além da organização pelos tipos – brinquedos de encaixe; carrinhos; materiais de casinha; bonecas; heróis…).

Incluo aqui a ideia de incorporar as crianças em algumas situações de organização da casa, como: arrumar as almofadas do sofá enquanto os adultos reorganizam a sala; levar a roupa suja para o cesto; colocar a mamadeira/copo de leite na pia; guardar os sabonetes e pastas de dentes nos armários após a compra de supermercado, entre tantas outras.

Quando a bagunça impera, vale a pena evidenciá-la para a criança, mostrando e conversando com ela sobre o quanto perturba ter a casa bagunçada. Caso a criança esteja numa atitude provocativa (algo que fica mais frequente a partir dos 3 anos), transfira a bagunça das áreas comuns da casa para o seu quarto, ou retire temporariamente os objetos de seu acesso.

Não pensem, entretanto que fazer tudo isto é garantia de que tudo será resolvido, vide o que relatei no início do texto. Estamos falando de vida real e não de auto-ajuda! Até hoje temos conversas, brigas, explicações, tolerâncias, ações restritivas… e acredito que mesmo não conseguindo atingir o (nosso) objetivo (como pais), os valores que estão imbricados no ato de cuidar da nossa casa e de nossos objetos chegam (e chegarão) de alguma forma!

 

PS: Por via das dúvidas, estou à procura de uma ratoeira que dê fim a um “rato terrível”, alguém conhece?

Por Ana Paula Yazbek

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[1] As origens do brincar livre. Autoras: Éva Kálló e Györgyi Balog
Tradução: Grupo Educar 0 a 3
Editora: Omnisciência