fbpx

Nestas primeiras semanas de retorno presencial do espaço ekoa, como disse em outro texto do blog, tenho investido no acolhimento, na observação e numa interação mais livre e aberta, que considere as demandas e reações colhidas no presente. Reencontrar as crianças após sete meses tem sido uma experiência única, cercada de olhares, sorrisos, gestos e falas. No entanto, gostaria de relatar um situação de contato com uma criança nova, ou melhor, de uma criança que passou dos bebês para as turmas dos maiores.
Logo que cheguei ao salão percebi que havia no grupo uma criança que estaria comigo pela primeira vez, ou seja, alguém com a qual ainda não havia criado laços. Seguramente para aquela criança eu também não dizia absolutamente nada, não passava de um adulto igual a diversos que já deveriam ter cruzado o seu caminho. Como poderia então, em tão pouco tempo, começar a estreitar nossos laços? Talvez se voltasse toda a minha atenção a sua presença, tentando estabelecer algum vínculo comunicativo, conseguisse alguma resposta. Mas algo me dizia que não seria um caminho interessante e proveitoso focar exclusivamente nessa interação, até porque havia mais crianças presentes.
Comecei a tocar o pandeiro, a cantar e a brincar com as demais crianças. O som de certa forma prendeu a sua atenção por um breve instante. Depois de algum tempo brincando fizemos uma pausa para o lanche. Até então não tinha conseguido cativa-la. Foi quando outra criança tirou diversos tecidos que estavam dentro de uma caixa e tive a ideia de pô-la sentada e arrasta-la como se tivesse num barco. A brincadeira imediatamente chamou a sua atenção e das demais crianças. Aos poucos, uma a uma, sentava no tecido enquanto retirávamos as mesas e as cadeiras para liberar mais espaço para a nossa aventura. Aquele olhar até então pouco entregue ao fascínio e ao riso passou a ser a tônica do seu rosto. Brincamos muitas vezes, mudamos as posições no barco, as direções e até mesmo, durante algumas ocasiões, as próprias crianças tentavam puxar o tecido.
O fascínio causado pela vertigem de ser puxado pelo tecido e o acolhimento e sensação de envolvimento do seu corpo junto aos demais, potencializou a aproximação e mais vinculação desta nova criança ao grupo e a mim. Neste período de convívio e acolhimento, com propostas lúdicas construtivas e corporais, aos poucos nos cativamos e nos tornamos únicos, um para o outro.
Escrevi essas palavras inspirado pelo trecho do capítulo 21 do livro O Pequeno Príncipe de Antonie de Saint-Exupéry http://www.cirac.org/Principe/Ch21-pt.htm

Por Prof. Marcos Santos Mourão (Marcola)