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O estímulo à leitura na infância terá marcas duradouras por toda a vida. Mas como descobrir qual a leitura ideal ou a que vai agradar mais os pequenos? Veja algumas dicas e entenda o porquê ler para bebês e crianças pequenas

Todos sabemos o porque ler para bebês e crianças pequenas, certo? Mas será que sabemos a dimensão do que isso pode significar em suas vidas? Para organizar minhas ideias escrevi sobre minhas lembranças e experiências com os livros e as histórias.
Desde pequena, os livros fazem parte da minha vida. Tenho alguns (poucos) exemplares que fizeram parte de meu acervo da infância. Dentre eles estão, Lucia já vou indo, de Maria Heloísa Penteado, Marcelo Marmelo Martelo, de Ruth Rocha, o Menino Maluquinho, de Ziraldo, Outra vez os três porquinhos, de Érico Verissimo, Ou isto ou aquilo, de Cecília Meireles e diversos livros de Lygia Bojunga Nunes, em especial A Bolsa Amarela.
Lembro-me que, no caminho para minha casa, tinha uma livraria chamada Capitu (ficava num sobrado na Rua dos Pinheiros) e os livros infantis ficavam no andar de cima. Eu entrava lá, subia as escadas, sentava nas almofadas e esquecia da vida. Ficava lendo por muito tempo, depois saía sem falar com ninguém. Sentia que estava fazendo algo meio proibido e gostava desta sensação.

Lembro também que quando li A Bolsa Amarela fiquei impressionada, pois foi a primeira vez que tive a sensação de que alguém me conhecia na intimidade, que sabia quais eram meus segredos mais íntimos e conhecia muitas de minhas angústias. Sensação que me acompanha até hoje a cada livro que leio e gosto. Fico amiga de algumas personagens, brigo com outras, começo a ler tudo que posso de um mesmo autor. Às vezes compro livros sem ter a chance de ler, então, dou para minha mãe amaciar as letras e depois, quando tenho tempo, me delicio com a leitura facilitada por ela.

Ao me tornar professora, lia diariamente para meus alunos. Era um momento importante de encontro e cumplicidade. Nas turmas mais difíceis que tive, as histórias eram nossos momentos de trégua: os livros traziam aventuras, afetos, disputas, medo, bondade, dúvida, apreensão, superação. Divertindo e trazendo novas palavras e formas de dizer as coisas mais complexas que envolvem a vida humana.
Quando me tornei educadora de bebês há dezesseis anos, me deparei com olhares diferentes, movimentos e choros. No começo, ficava sem saber direito o que ler e como ler para eles. Algumas histórias me pareciam muito complexas, longas, difíceis, outras muito sensoriais, com imagens saltando e com um vocabulário restrito.
Mas pelas experiências anteriores, sabia que o mais interessante era descobrir com as próprias crianças quais histórias eram mais interessantes para elas. A partir de um ritual de apresentação, as crianças eram chamadas para roda, o livro era apresentado e a leitura iniciada. A melodia da voz ia se amoldando ao texto narrado, as interrupções ocorriam pelas manifestações das crianças, pausas eram feitas e a leitura retomada depois.

Com o tempo, o momento da leitura foi se estruturando, a rotina se estabelecendo e muitos livros foram compondo o acervo do espaço ekoa. Há livros que são lidos e relidos desde 2002 e desejamos que continuem dizendo coisas para as próximas crianças que virão, pois literatura de qualidade é perene. E outros que, desde a primeira leitura, se tornam os preferidos das turmas (clique aqui para saber quais são ).
Ao longo destes dezesseis anos de trabalho, noto que houve uma mudança qualitativa na produção literária destinada aos pequenos. Os livros pop up’s, coloridos, sem uma narrativa bem construída e os livros “com vontade de ensinar” foram dando lugar à narrativas contadas com maestria em livros álbuns escritos e ilustrados por autores nacionais e estrangeiros, nos quais as vivências humanas são apresentadas sem banalizar as capacidades das crianças pequenas. Rotina, família, medo, humor, amor, expectativa, morte, nascimento, fantasia, realidade, dores, alegrias são alguns dos temas que perpassam estes livros.
À medida que lemos para as crianças, elas vão nos contando quais histórias as atraem mais. Basta abrirmos um livro que elas já vão se aproximando, pois sabem que de dentro dele imagens e palavras irão levá-las para o tempo do era uma vez, um tempo em que as vozes mudam de tom e melodia, o silêncio e a respiração dão ritmo e um espaço de cumplicidade se instaura, até o momento em que entra-se por uma porta e se sai pela outra e quem quiser que conte outra!

Por Ana Paula Yazbek