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Não sou uma pessoa que fica muito tempo nas redes sociais, vejo muito rapidamente o feed, passo por alguns stories e meus principais posts são nos aniversários das pessoas queridas da minha família. Não nego a importância que elas têm para a conexão entre as pessoas, para a informação e entretenimento. Há muita coisa interessante e divertida que vale a pena ser vista, partilhada e divulgada. Há boas reflexões, trocas culturais, bobagens e alegrias.  

Mas, por outro lado, vejo que também proporcionam tristeza, angústia e distanciamento, principalmente quando propagam vidas mais interessantes e perfeitas do que as nossas. Será mesmo que todo mundo viaja para lugares incríveis, com pessoas maravilhosas? Será que só meus filhos não nasceram empelicados (dentro da bolsa)? Será que as mulheres que não conseguem amamentar falham em sua maternidade? E as crianças que demoram a falar, a falha está em quem, nelas ou nos pais e mães? 

Lembro-me sempre da cena de uma amiga que visitei, semanas após o nascimento do primeiro filho. Ela vestia uma camiseta larga do marido, estava com olheiras, cabelo preso com elástico de dinheiro, segurava uma fralda de pano, cheia de leite regurgitado e, após colocar o filho para uma soneca, a primeira coisa que disse foi que iria processar as mães perfeitas e os publicitários de fralda descartável, por propaganda enganosa. 

Pois é, a vida real é bem menos interessante e perfeita do que as vidas virtuais. Na vida real sentimos tédio, vivemos conflitos, passamos raiva, diferente do que ocorre na vida virtual, quando qualquer evento trivial se torna merecedor de destaque a ser compartilhado. Meus dois filhos, Marina e Pedro, foram bebês e crianças no período pré Instagram. Hoje assisto com preocupação uma enxurrada de pequenos famosos, com perfis criados antes de nascerem, com milhões de seguidores, patrocinadores que geram muito dinheiro. Quando Marina nasceu, em 1998, estreava o filme “Show de Truman”, estrelado por Jim Carrey. No filme, um homem tem a sua vida inteira filmada e transmitida ao vivo pela TV, 24 horas por dia via satélite para todo o mundo, desde o seu nascimento. O programa é transmitido sem nenhuma interrupção, nem mesmo intervalo publicitário. A publicidade é feita de maneira diferente. Tudo ali está à venda: o que os atores comem, roupas, até mesmo as casas em que vivem. Quando assisti ao filme não poderia imaginar que duas décadas após estaríamos tão presos ao mundo das aparências, sem distinguir a vida real da fictícia e, principalmente, sem se questionar se estamos vivendo uma espécie de realidade simulada.  

Uma simulação que influencia no comportamento das gestantes e das mães, dando-lhes sempre a sensação de que não estão atendendo suficientemente bem seus(as) filhos(as), seus maridos/esposas, seus empregos. É incrível como somos capazes de repudiar as mensagens propagadas nos anos 50 e 60 de uma mulher perfeita, arrumada, dedicada ao marido, ao lar e aos filhos e somos tão permissivos com as taxas atuais de ansiedade e depressão causados pelo uso excessivo das redes sociais. Para o bem da humanidade, é hora de sairmos desta caverna virtual e contarmos às pessoas que existe uma outra realidade do lado de fora.  

Por Ana Paula Yazbek