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As brigas entre irmãos e os conflitos entre as crianças são extremamente comuns e necessários ao aprendizado da convivência. Apesar disso, é muito difícil para os adultos lidarem com a recorrência destas situações.  

Muitas pessoas acreditam que pela via punitiva podem resolvê-las, outras acham que pela conversa as crianças irão compreender como devem agir e os problemas serão resolvidos.   

Pela minha experiência de filha, mãe e profissional da educação posso afirmar que não há uma fórmula mágica que dê conta de eliminar os conflitos. Vale então pensarmos em formas mais assertivas de lidarmos com eles. Mas o que isso significa? 

Primeiro, vale lembrar que os conflitos entre as crianças ocorrem por motivos diversos: ciúmes entre irmãos, interesse pelos mesmos brinquedos, sentimento de posse por objetos ou pessoas, forma de buscar contato com o outro, entre tantos outros. Por isso, cabe aos adultos o papel de mediador das disputas e o cuidado e  a atenção para garantir a integridade física entre as crianças e não o papel de justiceiros.  

Precisamos lembrar, também, que os conflitos são das crianças. No caso de uma disputa por algum material, por exemplo, são elas que devem resolver quem ficará com o objeto desejado, cabendo aos adultos a ajuda para que elas possam decidir como será a partilha. Quando, por exemplo, duas crianças disputam um mesmo brinquedo, o adulto pode se aproximar a fim de impedir que se machuquem e que se escutem, retomando o que cada uma fala, fazendo com que percebam que as duas querem o mesmo objeto e que precisarão decidir quem ficará com ele.  

Às vezes, a conversa entre elas é longa e, ao final, não conseguem resolver o que fazer; outras vezes, uma das crianças desiste do objeto e vai fazer outra coisa; há situações em que as crianças decidem que cada uma usará um pouco o brinquedo. Na verdade, pouco importa a solução, o que vale é o incentivo à escuta e à tomada de decisão entre elas. Este tipo de mediação evidencia que os adultos estão disponíveis para ajudá-las. 

No entanto, é preciso relativizar cada mediação. Quando as crianças sentem que as brigas e disputas são muito valorizadas pelos adultos, é comum que passem a intensificar este tipo de comportamento, como forma de ganhar mais atenção. Nestas ocasiões, cabe informá-las que você está ouvindo que estão brigando e perguntar se precisam da sua ajuda, pode falar algo como “estou escutando que vocês estão falando muito alto, não vou deixar que se machuquem, vocês precisam da minha ajuda?”. Quando falamos assim, muitas vezes, elas mudam de sintonia e vão fazer outras coisas. 

Nem sempre, pais e mães têm tanta disponibilidade para fazer este tipo de mediação, lembro-me, por exemplo, que minha mãe falava em tom de voz bem bravo quando eu e meus dois irmãos entrávamos nesta sintonia. Para dar fim à briga, ela mandava cada um para um quarto e fechava a porta do corredor. Assim que ela batia a porta, cada um de nós abria a porta do quarto e, com cumplicidade, falávamos que “a mamãe tinha ficado muito brava”. Depois, ficávamos nos quartos por um tempo. Com isso, cada um de nós se acalmava e conseguíamos voltar a brincar, mais tarde, sem fazermos tanto alarde. 

É interessante que as famílias contem com a escola, conversando sobre os conflitos comuns entre os filhos, contando como são resolvidos, pedindo orientações.  A escola pode cumprir um papel fundamental como espaço de aprendizado de conflitos, convívio com as diferenças e fortalecimento de valores, principalmente se existir uma parceria com as famílias.  

Algumas formas interessantes, já adotadas em algumas instituições, são realizações de assembleias para mediação de conflitos, fortalecimento no projeto pedagógico para um verdadeiro protagonismo das crianças e adolescentes e participação da comunidade. 

E assim, tudo se resolve até o aparecimento do próximo conflito! 

Por Ana Paula Yazbek