Achei interessante lançar esta pergunta para que possamos pensar sobre a importância de ser ler para as crianças pequenas. Sempre gosto de primeiro tentar ficar sob o ponto de vista da criança, então vamos lá.
À princípio, um livro é apenas mais um objeto que ela pode ter diante de si. Um objeto que pode ter diferentes formatos e, a depender da gramatura do papel, pode responder ao toque de modos distintos. Uma página pode ser virada com facilidade e manter-se rija, enquanto outra pode rasgar ou amassar. Suas cores podem chamar atenção pelos contrastes ou por seguirem uma mesma tonalidade.
Quando um livro é manipulado pela criança, ele pode ter diferentes funções. Serve ao tato, produz sons ao ser lançado ao chão, serve de mordedor e conta coisas a partir de imagens que as crianças conhecem (de objetos, pessoas ou animais).
Uma criança e um livro sozinhos podem logo se esgotar ou podem permanecer num mesmo tipo de exploração. Agora, quando junto da criança e do livro aparece uma terceira pessoa que possa dar-lhe voz, tudo se modifica.
Um livro sempre pede um leitor, alguém que cuide dele, que o decifre e o possibilite a contar sua história e pede que este leitor partilhe a história, seja com seus próprios pensamentos ou com outras pessoas.
Quando esta tríade é estabelecida (livro, leitor e criança), todos se modificam. O livro por poder ter sua história conhecida, o leitor por dar voz a ela e a criança por imergir num outro modo de lidar com o tempo.
Um livro quando é lido por alguém, pede uma modulação de voz diferente, pede pausas, respirações, suspenses, risadas, fluências. Os livros possibilitam a apresentação do mundo e narram diferentes histórias que favorecem o contato com sentimentos humanos em segurança, sendo possível ao leitor ser medroso ou corajoso, enfrentar adversidades ou vencer batalhas, fugir ou ser encontrado, sem sair do lugar.
Quando o leitor é o pai, a mãe ou alguém que se responsabilize pela criança, cria-se uma nova rede de afetos e apresenta a disponibilidade para se estar com ela, compartilhando o tempo da leitura e desfrutando plenamente da história.
Após ser lido, um livro deixa de ser apenas mais um objeto. Torna-se o portador de histórias, tanto da que seu autor quis contar, como as histórias de cada momento em que o livro foi lido. Histórias permeadas pelos cheiros das pessoas, tons e timbres de vozes, respirações, risadas…
Quando as crianças convivem com livros e com pessoas que se disponibilizam ler para elas, ao encontrarem um livro, passam a querer descobrir suas histórias e dificilmente se cansam de manipulá-los.
Por Ana Paula Yazbek