Por Ana Lucia Bresciane | Coordenadora Geral do espaço ekoa e do projeto ampliaekoa
Como funciona a avaliação no espaço ekoa?
No espaço ekoa, entendemos que avaliar é uma forma de cuidar. A avaliação faz parte do cotidiano da escola e tem como principal objetivo apoiar os processos de aprendizagem e desenvolvimento das estudantes e adolescentes. Mais do que verificar resultados, buscamos compreender os percursos, reconhecer as conquistas e usar as observações para planejar os próximos passos. Avaliar, aqui, é observar, escutar, dialogar e construir, sempre buscando respeitar os diferentes tempos e formas de aprender.
Avaliação Formativa
A avaliação é formativa: ela ajuda educadores e estudantes a entenderem como o processo de aprendizagem está acontecendo. A partir dos registros e observações, conseguimos ajustar propostas, redesenhar estratégias e garantir que as experiências educativas estejam em sintonia com as necessidades do grupo. É uma ferramenta de escuta e planejamento, não de controle ou comparação.
Como isso acontece no dia a dia?
A avaliação está presente o tempo todo. Os educadores observam as interações, as produções, os gestos, as falas e o envolvimento das estudantes com as propostas. Esses registros — escritos, fotográficos, em vídeo ou áudio — são analisados em equipe, e servem como base para o acompanhamento individual e coletivo. Também promovemos momentos mais sistematizados de avaliação ao longo do semestre, em um primeiro momento do ano, quando fazemos avaliações diagnósticas que permitem planejar a continuidade do trabalho, e depois em diversos momentos nos quais retomamos atividades significativas, organizamos portfólios e realizamos rodas de conversa e autoavaliações.
Existem provas ou testes?
Depende do ciclo. Nos anos iniciais, como no Ciclo II, não utilizamos provas ou testes descontextualizados. Acreditamos que esses formatos não dialogam com a infância nem com a forma como o conhecimento é construído nessa fase. Em vez disso, usamos atividades que surgem no contexto dos projetos, sequências ou práticas do dia a dia — e que fazem sentido para os estudantes.
Já a partir do Ciclo III, os estudantes começam a ter contato com provas como um dos instrumentos avaliativos. Isso é feito de forma gradual e respeitosa, com o objetivo de ampliar o repertório dos estudantes e ajudá-los a desenvolver estratégias para lidar com diferentes formatos de avaliação.
E como os estudantes participam da avaliação?
Desde cedo, são incentivadas a olhar para suas produções, refletir sobre suas aprendizagens e pensar no que gostariam de melhorar ou aprofundar. A autoavaliação é parte importante da rotina e acontece tanto de forma individual quanto coletiva. Isso fortalece a autonomia, o autoconhecimento e o senso de responsabilidade.
Como as famílias acompanham esse processo?
As famílias são convidadas a participar ativamente do acompanhamento das aprendizagens. Ao longo do semestre, realizamos reuniões coletivas e individuais, em que conversamos sobre os percursos das estudantes e trocamos percepções. Também compartilhamos a pasta com as atividades realizadas em sala de aula, e que depois irão alimentar os portfólios comentados, que trazem produções selecionadas e analisadas pela criança e pelos educadores. Esses documentos tornam visíveis os processos de aprendizagem e ajudam a construir uma relação de confiança e parceria entre escola e família.
Os estudantes recebem notas?
Sim, a partir do Ensino Fundamental utilizamos conceitos como forma de registro da aprendizagem. Porém, nos primeiros anos, esses conceitos são utilizados apenas internamente, como apoio ao planejamento pedagógico. É apenas a partir do meio do Ciclo III que eles passam a ser compartilhados com os estudantes — sempre acompanhados de apreciações descritivas, explicações claras e conversas que ajudam a compreender o que já foi conquistado e o que ainda pode ser aprimorado.
Nosso foco não está na classificação, mas na construção de um olhar construtivo e significativo sobre o próprio processo de aprender.
E como funciona a avaliação para estudantes com deficiência ou necessidades específicas?
No Ekoa, inclusão não é discurso, é prática. Para estudantes com deficiência, elaboramos um Plano de Ensino Individualizado (PEI), construído pela equipe pedagógica, que é constantemente atualizado. Esse plano orienta as propostas e os registros de cada estudante, garantindo que suas particularidades sejam respeitadas e que ele tenha reais condições de se desenvolver e participar das experiências escolares com sentido e qualidade.
Além disso, realizamos ajustes curriculares, adaptando tanto as atividades quanto os instrumentos de avaliação de acordo com as necessidades de cada criança ou adolescente.