Por Conselho Ekoa
Com o objetivo de olhar para dentro e compartilhar com nossa comunidade o que o espaço ekoa como instituição tem feito no direcionamento de consolidar ações antirracistas e na construção de um currículo direcionado às questões da Educação para as Relações Étnico Raciais (ERER).
Para elucidar nossas ações, este texto contará o que já fizemos, o que estamos fazendo e o que iremos fazer.
Desde a nossa fundação, em 2002, contratamos pessoas negras para trabalharem nos mais diferentes cargos. Para dar uma medida, atualmente, das doze pessoas que estão em cargos de gestão (direção, coordenação, gerência ou orientação) temos seis pessoas brancas, cinco pessoas negras (pretas ou pardas) e uma asiática. No total da escola temos, 54% de funcionários e funcionárias são pessoas negras e ocupam as diferentes funções.
Em 2021, ano em que anunciamos que iríamos nos tornar uma escola que abarcaria toda a Educação Básica (do berçário ao final do Ensino Médio), constituímos um grupo de assessores(as) das diversas áreas curriculares, sob a coordenação de Ana Lucia Bresciane e uma de suas primeiras ações foi a elaboração de um texto base para que todas as áreas curriculares buscassem nortear suas intenções educativas SEMPRE considerando as diversidades e as relações étnico raciais.
Ao longo deste ano, 2024, a equipe de assessores/as está revendo toda a documentação curricular produzida desde 2021 sob o viés de garantir representatividade e analisar se os diferentes componentes curriculares (inclusive os das séries que ainda não atendemos) contemplam visões de mundo, história, arte, corpo e ciência produzidas por autores e linhas de pesquisas não exclusivamente brancas ou euro centradas.
Nas diferentes turmas, desde a cerejeira até a bromélia (bebês até o 5º e 6º anos), as crianças estão em contato cotidiano com histórias, canções, manifestações artísticas e científicas que trazem um olhar ampliado para o ERER e ainda contam com projetos e sequências que trazem esta temática.
Neste ano, temos dedicado nossas reuniões gerais que envolvem TODA equipe de profissionais do espaço ekoa – equipe gestora, equipe pedagógica, equipe administrativa e equipe operacional – para a formação em ERER, com a assessoria das GÊMEAS[1], lideradas pela Luciana Alves e Jussara Santos. (Cabe aqui um parêntese sobre um diferencial significativo do ekoa: a inclusão da equipe operacional nas reuniões gerais e nos encontros formativos).
Em todos os casos em que identificamos, ou que nos reportaram, atos racistas ocorridos no cotidiano, tratamos imediatamente das situações, partilhando-as com os agentes envolvidos (crianças, educadores/as e familiares) e conduzimos uma a uma com ações voltadas à reparação, sanções e reflexão sobre os atos.
Desde o ano passado, 2023, incentivamos as famílias a se organizarem em comitês e temos nos reunido frequentemente com os/as representantes do GT de Famílias Antirracistas, pois consideramos que a parceria, mesmo quando há confronto ou discordância, é a melhor maneira de lidar com uma temática tão complexa e difícil como é o racismo.
Nossas equipes, também, constituíram quatro comitês que envolvem temáticas que demandam olhar e vigilância para que os princípios descritos em nosso Projeto Político Pedagógico[2] não se percam. São eles: comitê de gênero, comitê antiintolerância, comitê de sustentabilidade e comitê ERER.
No ano passado, iniciamos a conversa sobre questões relacionadas ao antirracismo com uma palestra sobre branquitude com a Lia Vainer Schuman para as famílias e toda equipe do espaço ekoa. Pretendíamos realizar outra palestra no segundo semestre, mas vamos unir esforços (de agenda) para que a nova palestra ocorra ainda neste semestre.
A partir do caso de racismo que está sendo amplamente divulgado, conversamos com representantes do GT de Famílias Antirracistas e nos comprometemos a elaborar dois documentos: um guia antirracista que será entregue às famílias assim que matricularem seus filhos e/ou filhas no ekoa e a elaboração de orientações educativas (protocolo) para casos de racismo. Este documento será elaborado junto a nossa equipe e será balizado pelo que está previsto no artigo 75, página 33 de nosso Regimento Escolar.
Estes documentos serão produzidos com supervisão de nossas assessoras, Jussara Santos e Luciana Alves[3] e serão compartilhados com as famílias.
Por fim, gostaríamos de dizer que as ações aqui citadas têm o intuito de formar crianças, adolescentes e jovens que considerem e respeitem a diversidade. Consideramos que este trabalho se consolida em parceria com todos os agentes de nossa comunidade (gestão, equipe pedagógica, equipe administrativa, equipe operacional, famílias e estudantes/crianças) e que infelizmente, em muitos momentos, será permeado por dores e por confrontos.
Conselho ekoa[4]
[1] As Gêmeas – Consultoria em Educação para as relações étnico-raciais é coordenada por Luciana Alves, pedagoga e mestre em Educação pela Universidade de São Paulo, doutoranda na Universidade Estadual de Campinas e autora do livro Ser Branco, publicado em 2013 pela editora HUCITEC. Luciana exerceu a função de diretora de escola – educação básica – na Universidade Federal de São Paulo, onde também atuou como pró-reitora adjunta de Assuntos Estudantis. Foi consultora em Educação para as Relações Étnico-raciais no Centro de estudos das relações de trabalho e desigualdade (CEERT) e na Fundação Bienal de São Paulo.
[2]a) justiça, solidariedade e respeito à dignidade da pessoa humana e de todos os demais seres que habitam nosso mundo; b) convivência pacífica, democrática, cooperativa e inclusiva entre pessoas e grupos; c) integração, harmonia e equilíbrio entre todas as dimensões humanas e entre os seres humanos e a natureza
[3] Jussara Santos compõe a dupla autoria do documento: Currículo da Cidade- Educação Antirracista, currículo da cidade de São Paulo, lançado em 2022. Toca tambor no bloco afro Ilu Obá de Min, é doutora em Educação e relações étnico raciais pela Universidade Federal de São Carlos e mestra pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Pesquisa infâncias, antirracismo e Educação Infantil. Presta assessoria para colégios e universidades privadas. Atua como membra de comissões de heteroidentificação em concursos públicos no Brasil.
Luciana Alves, pedagoga e mestre em Educação pela Universidade de São Paulo (USP). Doutoranda na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Autora do livro “Ser Branco”, editora HUCITEC. Pró-reitora Adjunta de Assuntos Estudantis na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Consultora em Educação para as Relações Étnico-raciais.
[4] Membros do Conselho – Ana Paula Yazbek – Sócia e Diretora Geral, Lena Yazbek – Sócia e Diretora Administrativa; Pila Zucca – Sócia, Carlos Bracher – Sócio, Ana Lucia Bresciane – Coordenadora Geral