Por Alexandre Otsuka, Bruno Sampaio e Camila Bandeira | Professores
Inauguração do PI na turma Jacarandá
Como tem sido desenvolvido o projeto integrador na recém inaugurada turma IVA? Quais são as especificidades, desafios e potencialidades de uma turma formada por professores especialistas e um professor tutor? Como temos feito a mediação entre a documentação curricular e a realidade que nos é apresentada por nossas/os estudantes? Essas e outras perguntas foram objeto das reflexões que compartilhamos com a equipe no último seminário interno do espaço ekoa, a partir do trabalho com o PI Nossa comida de todo dia: como impacto o mundo quando como?
O Projeto Integrador é parte estruturante do currículo no espaço ekoa desde a turma IIA, e vem se consolidando como uma prática que busca atravessar os componentes curriculares e promover a integração entre diferentes saberes. Trabalhamos com uma proposta construída coletivamente, com o apoio de assessorias e documentos orientadores consistentes. Ainda assim — ou, talvez, justamente por isso —, a prática nos exige um constante exercício de escuta, presença e negociação, a partir de pontos que nos mobilizam cotidianamente. Lidamos com encontros e desencontros entre expectativas prévias e demandas do grupo; ajustes de planejamento entre a equipe; decisões que precisam ser (re)feitas ao longo do percurso; além de outros aspectos que orbitam nosso objetivo principal: construir situações que viabilizem a aprendizagem das/os estudantes e valorizem seus saberes.
Na Jacarandá, a pergunta norteadora como impacto o mundo quando como? serviu como ponto de partida para uma investigação ampla sobre alimentação e suas múltiplas dimensões: saúde, cultura, meio ambiente, economia e política. A partir dessa questão, foram se desdobrando outras, provocadas pelos próprios estudantes, como sua relação com alimentos ultraprocessados e a seletividade alimentar.
Nesse contexto, um dos desafios foi conciliar os diferentes tempos dos componentes curriculares (História, Ciências da Natureza, Geografia e Matemática) com o tempo das aulas do PI, ministradas pelo professor tutor. Foi preciso alinhar expectativas, rever planejamentos, adaptar sequências didáticas e, principalmente, fazer escolhas para cada uma das disciplinas. Selecionar o momento certo de entrar com uma atividade, decidir se uma investigação deveria ser um disparador ou uma síntese, ajustar os objetivos de uma aula a partir do que os estudantes trouxeram — tudo isso exigiu diálogo constante entre nós, professores, e olhares atentos em relação às próprias demandas dos e das estudante da Jacarandá.
Percebemos que, embora haja um documento que orienta o PI, ele não dá conta — e nem deve dar — de antecipar as especificidades de cada grupo, de cada contexto. Na prática, o projeto se reinventa. Às vezes, uma proposta prevista precisa ser adiada ou reformulada; outras vezes, o próprio percurso dos estudantes indica um novo caminho. Esses desvios não são falhas, mas entendemos que fazem parte do processo complexo de um projeto produzido a muitas mãos e pensado para estar em permanente construção.
Foi nesse espírito que compartilhamos nossa experiência no seminário, destacando que não existe um modelo rígido a ser seguido, mas um constante convite à escuta e à construção conjunta. O PI, para nós, é um espaço fértil — de parcerias, de negociações e de aprendizagens e saberes que circulam. Seguimos acreditando que, quando criamos situações intencionais para que a voz das/dos estudantes apareça também na discussão sobre aquilo que se come, que se fala e que se sente, estamos escutando o que se aprende e como essa aprendizagem se dá na realidade de nossas alunas e alunos.