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Estar do lado de fora, ocupar todos os espaços, ter contato com a natureza, sempre foram características marcantes na vida de todas as crianças que frequentam o espaço ekoa.
Crianças e natureza são territórios férteis e possuem ampla capacidade de renovação. De um lado estão as crianças, com suas mentes curiosas, corpos que se movem o tempo todo, mãos que investigam miudezas, olhos que contemplam, se encantam e descobrem uma infinidade de possibilidades que o mundo que as rodeia oferece.
Do outro lado, estão os elementos da natureza dispensados generosamente por ela o tempo todo: a terra, o vento, a chuva, o sol, o céu, as árvores, os pássaros e outros bichinhos, enfim, uma infinidade de elementos que têm cores, cheiros, texturas, que fazem barulhos diferentes, mas também, garantem silêncio e calmaria.
Um mundo que é palpável, um universo de possibilidades, que convida as crianças para brincar nele, que as presenteia com matérias primas para suas ideias e invenções.
Ao observamos as crianças brincando aqui no espaço ekoa, com toda vivacidade que elas têm, podemos nos encantar com suas descobertas, acompanhá-las ocupando os espaços externos, transformando-os num lugar de existência para os enredos e personagens criados.
Ouvir suas conversas amistosas, os convites lançados umas às outras, unindo-as nos mesmos interesses, as gargalhadas, os gritos eufóricos diante de seus achados, as corridas que as levam de um lugar a outro num curto espaço de tempo, observá-las compenetradas, analisando algo recém descoberto, é muito gratificante.
Nos primeiros dias após o retorno ao convívio presencial, nosso gramado estava todo verde e, pouco a pouco, foi ganhando marcas visíveis de seus pezinhos, nas subidas e descidas, desbravando as elevações do terreno e formando trilhas. Caminhos percorridos todos os dias que, de tanto ser explorado, acabou se transformando no cenário de boa parte das brincadeiras protagonizadas por elas.
Um jardim encantado, cheio de “chifres de unicórnios”, joaninhas de muitas cores, ninhos de tatus-bolinhas, casulos, fadas, princesas, heróis e um tanto de outros personagens que ganham vida através da fala e do corpo das crianças e depois desaparecem, cedendo lugar a novas invenções.
Uma floresta que abriga lobos bravos e, às vezes, bonzinhos. Árvores com cipós, onde as crianças se penduram, gravetos que se transformam em espadas, pedrinhas que viram comidinhas e uma infinidade de outros elementos que com ajuda das crianças se transformam em pinceis, barcos, arco-flecha e outros brinquedos.
Por fim, um pomar, onde as maritacas e outros pássaros se deliciam com comida fresquinha. Aqui temos, pitangueiras, jabuticabeiras, cerejeira, goiabeira, uvaia, romã, amoreira. Mas a que mais tem chamado a atenção das crianças com seus frutos dispensados pelo chão, é o jambeiro.
Diariamente, vemos crianças empenhadas na divertida tarefa de procurá-los entre as folhagens e gramado, em seguida, dedicando um precioso tempo na complexa tarefa de abrir o fruto, para descobrir o que tem dentro dele.
Em poucos dias, coletaram uma porção de sementes, que a princípio ficavam guardadas numa caneca. O recipiente escolhido foi ficando pequeno para o tamanho do interesse das crianças de juntar aquelas bolinhas que se replicavam como num passe de mágica. Foi então que uma das educadoras trouxe uma caixinha que passou a ser lugar para guardar as sementes de jambo e outras coisinhas encontradas pelo jardim.
Tem sido assim, todos os dias. Assim que chegam ao espaço ekoa, tem sempre alguém que se interessa por algo da natureza. Em pouco tempo, esse movimento iniciado por uma criança, ganha novos seguidores e ao longo do tempo em que permanecem aqui conosco, a cena mais vista, são mãos cheias de descobertas. Afinal de contas, as mãos das crianças são as mais curiosas; por meio delas o mundo é revirado, instigado, cutucado. Elas se movem buscando descobrir seus detalhes, que num primeiro momento podem até parecer sutis e despretensiosos, mas logo tomam forma de conhecimento.
Aqui no espaço ekoa, valorizamos o livre brincar como importante recurso no desenvolvimento das crianças. No entanto, faz parte do nosso trabalho também, oferecer a elas outras boas oportunidades, com propostas direcionadas, com encaminhamentos específicos, em espaços configurados cuidadosamente com os elementos coletados.
Numa dessas situações, aproveitamos uma coleta de gravetos, folhagens e sementes para disparar uma proposta de arte e confeccionar nossos próprios pinceis. Cada criança teve a oportunidade de fazer o seu. Para finalizar, usamos um pedaço de barbante para que os elementos ficassem firmes na hora da pintura.
Em seguida, elas foram convidadas para testarem os pinceis, usando folhas e tinta, num espaço previamente organizado. Num primeiro momento, percebemos seu interesse em testar como ficaram os pinceis. À medida que testavam os efeitos, cada uma reagia de um jeito diferente. Algumas mantinham-se em silêncio compenetradas, outras iam percebendo a diferença entre o pincel convencional e o que estavam usando. Teve quem preferiu usar o dedo para pintar e ainda, quem solicitou usar mais de um pincel, testando seus efeitos:
– Olha, o meu pincel não funciona!
– O meu faz muitas bolinhas!
– Preciso de dois agora, tá bom!
– Esse não dá para usar, tá muito mole!
– Esse pincel não pega tinta!
Com suas indagações, foram percebendo que era possível imprimir cores no suporte de papel branco, fosse colocando mais tinta no pincel ou usando um pouco mais de força ao deslizar o pincel na folha.
E o resultado dessas produções marcaram esta manhã de muito envolvimento entre as crianças aqui no espaço ekoa!
Daí por diante nossos dias continuam sendo enriquecidos com as pinhas colhidas num outro jardim, com os barcos feitos de folhas grandes para brincadeiras na areia e gravetos que viram arco e flecha!
Dá para imaginar o brincar livre das crianças e a imaginação ecoando por toda a parte?

Por Márcia Oliveira e Letícia Pereira