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Adolescentes no ekoa: presença, potência e futuro 

por  Ana Lu Bresciane, Aderli Tringoni, Angela Kim, Laura Nassar

“(…) Eu só posso estimular os adultos que perseverem. Digo e repito a todos os que ensinam e se veem desanimados com os jovens, que procurem valorizá-los: continuem, mesmo que o jovem pareça zombar de você. Quando eles são vários, muitas vezes zombam do mais velho, e quando estão a sós, essa pessoa é para eles alguém muito importante. Mas é preciso suportar ser vaiado, tendo essa percepção: sim, sou vaiado porque sou um adulto, mas o que lhes digo os ajuda e lhes dá apoio” (DOLTO, 2004 )

O Ensino Médio ainda não começou no espaço ekoa, mas os adolescentes já estão conosco, trazendo no corpo, nas ideias e nos afetos, um mundo em transformação. Convivemos todos os dias com essa fase marcada pela instabilidade e pela força criativa, que reafirma a nossa decisão de construir, com responsabilidade e escuta, o Ensino Médio do ekoa

Esse segmento é, por excelência, o lugar de ingresso na vida juvenil. Um espaço de transição que demanda reconhecimento: o adolescente está deixando para trás a infância e entrando num território de indefinições, desequilíbrios e pouca clareza sobre si mesmo. É um tempo que empolga e amedronta, que abre possibilidades, mas também suscita conflitos e dúvidas: internas, sociais, acadêmicas, profissionais. 

A escola tem um papel central nesse momento. Pode (e deve) ser um lugar de apoio, reflexão e elaboração, onde a vida presente tem tanto valor quanto os planos para o futuro. Por isso, nossa proposta parte do cuidado com o agora, ao mesmo tempo em que constrói caminhos sólidos para o que está por vir. 

O necessário e o inegociável  

O Ensino Médio que estamos desenhando não deixará de lado aquilo que é necessário e inegociável. Haverá, com intencionalidade e equilíbrio, um ensino voltado para os conteúdos e os procedimentos de estudo essenciais à formação acadêmica. O terceiro ano, especialmente, será um momento de consolidação e preparação para o vestibular, com todo o apoio necessário para que os estudantes façam escolhas conscientes, críticas e informadas. 

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é nosso referencial, como deve ser. Além dos conteúdos previstos como direitos de aprendizagem, o currículo é estruturado a partir dos princípios, eixos e campos de ação propostos pela matriz curricular do espaço ekoa, ancorado também em saberes historicamente legitimados, bem como aqueles que foram marginalizados, como os conhecimentos ancestrais, que ganham visibilidade como parte fundamental de uma formação integral. 

Educação Integral 

A educação integral é uma convicção e uma prática no ekoa. Isso se traduz, entre outras formas, no cuidado com o corpo, algumas vezes esquecido no Ensino Médio. O corpo em transformação dos adolescentes precisa de espaço, escuta e expressão. Em nossa proposta asseguramos esse compromisso, garantindo condições para promover espaços e tempos cotidianos de práticas corporais e de autocuidado. Além dos horários semanais de Corpo em Movimento e das Artes do Corpo, esse tema também aparece como conteúdo fundamental em projetos e outras modalidades pedagógicas. 

A integração curricular, já consolidada nas etapas anteriores da escola, permanece como marco central no Ensino Médio. Buscamos a transdisciplinaridade por meio de projetos integradores e itinerários formativos de aprofundamento, nos quais diferentes áreas do conhecimento dialogam para abordar questões complexas do mundo atual. 

As aprendizagens são contextualizadas e têm como base a produção de conhecimento científico e o vínculo com a realidade. Estudar aqui é: compreender, questionar e produzir sentido. 

Acolhimento e pertencimento 

O acolhimento, no ekoa, não é uma resposta improvisada. Ele é parte da estrutura curricular, da forma como organizamos o tempo, das rotinas e dos vínculos entre pessoas. As turmas multietárias, que serão mantidas até o 1º ano do Ensino Médio, evidenciam as diferenças entre os estudantes e ampliam as possibilidades de convivência e compreensão mútua. Elas criam um ambiente em que os papéis se revezam, e todos têm a chance de se ver e de ser vistos de novas formas. 

As relações de confiança também se constroem a partir da presença constante do professor-tutor, dos momentos de Convívio e Participação, dos Projetos Integradores, dos horários reservados para o estudo autônomo (porém acompanhado), das pausas entre as aulas, do almoço compartilhado, da escuta da equipe pedagógica. Esses elementos não são acessórios, são estruturantes. 

No ekoa, proteger não significa isolar os jovens do mundo. Significa garantir um espaço onde possam ser olhados de perto, onde cada história é considerada, onde há lugar para o cuidado com as singularidades sem perder o sentido de coletividade. Acolher não é dizer sempre “sim”: é sustentar acordos, justificar os “nãos” e criar pertencimento. 

Avaliação que acompanha, não que rotula 

A avaliação no Ensino Médio seguirá os mesmos princípios que já regem nossa prática. Ela será contínua, plural e formativa. Não se limitará a provas e notas. Estará presente nos diálogos, nos acompanhamentos, nos instrumentos variados, e será construída junto com os estudantes. O erro será tratado como parte do processo e não como fracasso. O objetivo é formar sujeitos capazes de refletir sobre seus próprios caminhos de aprendizagem. 

Compromisso com o presente e com o mundo 

Não podemos pensar um Ensino Médio sem considerar o contexto em que ele acontece. Os adolescentes de hoje vivem num mundo acelerado, hiperconectado e muitas vezes solitário. A escola tem um papel fundamental em produzir laços, sustentar vínculos e ajudar os jovens a desenvolverem pensamento crítico diante das realidades que enfrentam — incluindo o uso das redes sociais, o impacto da cultura da performance e os desafios de saúde mental. 

Nossa intenção é que a escola ajude a formar pessoas capazes de atuar no mundo com discernimento e sensibilidade. Que não percam a dimensão pública da vida. Que saibam criar e sustentar relações, conviver com a diversidade e imaginar futuros mais justos. 

Cuidar da escola 

Para que tudo isso seja possível, é preciso também cuidar de quem cuida. O projeto do Ensino Médio valoriza os profissionais da escola por meio de condições concretas de trabalho: planejamento compartilhado, trocas entre equipes, acompanhamento próximo e atento da coordenação, tempos para estudo e reflexão conjunta. 

A construção do currículo está sendo feita pela equipe de assessores do ampliaekoa, que atua junto à coordenação pedagógica e professores da escola no desenho do currículo e dos itinerários, mantendo coerência com o que o ekoa tem sido, e abrindo espaço para o que ainda está por vir. 

Um futuro em construção 

A obra do novo espaço físico já começou. A arquitetura curricular segue viva e em processo. E a cada encontro, com os estudantes, com as famílias, com a equipe, reafirmamos nosso desejo e nosso compromisso: construir um Ensino Médio que reconheça a potência dos jovens, que acolha suas existências e que os prepare, com profundidade, com escuta e com clareza, para seguirem seus próprios caminhos. 

O Ensino Médio ainda não chegou, mas já está sendo cuidadosamente cultivado. E estamos felizes com esse futuro que se aproxima.