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Acreditamos que a adaptação ocorra ao longo de um tempo indeterminado, demarcado por avanços e retrocessos que merecem cuidado e atenção de todos os envolvidos neste processo.

A primeira etapa ocorre nos primeiros dias da criança conosco, quando acompanhada por uma pessoa de referência (em geral a mãe ou o pai), estabelecemos os primeiros contatos. Cada uma reage de uma maneira diferente, há as que resistem à aproximação, outras que encantam-se pelos espaços a serem explorados, outras observam à distância, outras que oscilam entre participar das propostas e ficar próxima aos familiares.

Em geral, choram, solicitam colo, precisam ficar com seus objetos de apego (chupeta, paninho…) por mais tempo do que o usual. Algumas perdem o apetite, outras não dormem… Mesmo quando tudo transcorre bem, devemos nos perguntar: quando e de que maneira elas irão sinalizar o estranhamento?

Nesta primeira etapa, nossa aproximação costuma ser cautelosa: buscamos apresentar tudo o que ocorre por aqui, falamos os nomes das outras crianças, mostramos os brinquedos, convidamos-as para as propostas e aguardamos suas respostas.

Muitas vezes, acompanhamos sua movimentação, mas também pedimos que os adultos que as estão acompanhando as conduzam para junto ao grupo.

Em alguns momentos, tudo transcorre muito bem, mas em outros parece que nada dará certo. Mas sabemos, que mesmo diante dos momentos mais caóticos, há aberturas para mostrarmos que estar conosco poderá ser muito agradável.

Nas idas e vindas, entre estranhamentos e divertimentos, o vínculo entre as educadoras e as crianças, vai se estabelecendo. Sendo a presença dos familiares fundamental, para que elas percebam que há uma parceria entre os adultos e que, se elas necessitarem, eles serão chamados!

A segunda etapa, ocorre quando a presença dos familiares não é mais necessária. Isto ocorre, quando, de comum acordo, optamos por este afastamento. Nesta etapa, as crianças precisam se sentir acolhidas pelas educadoras, em geral, tendo uma como maior referência.

A rotina é organizada de modo a envolvê-las, com materiais e espaços configurados de modo atraente e com leituras e brincadeiras que garantam sua atenção e envolvimento.

O choro, o uso dos objetos de apego e o colo, continuam a ser frequentes. Mantemos a atitude de cautela nas aproximações, esperando que as crianças consintam nosso contato e com isso, não se sintam invadidas.

À medida que o tempo passa, o espaço ekoa, as pessoas e o que fazemos por aqui, deixam de ser desconhecidos e elas começam a integrar-se espontaneamente às diferentes propostas. Vinculando-se aos adultos, colegas e rotina!

A terceira etapa é marcada não mais pelo estranhamento, mas por oscilações decorrentes de mudanças. Desde as que ocorrem em função dos marcos de crescimento (desmame, desfralde, retirada da chupeta…), às relacionadas às novas configurações de turmas, a chegada de novas crianças e saída de antigos colegas.

Novamente, o acolhimento se faz necessário, pois as crianças precisam se sentir seguras e saberem que reconhecemos que suas emoções e angústias podem ser expressas, que nosso colo, continua disponível para elas e que as novas crianças estão chegando para compor o novo grupo e não são ameaças ao seu bem estar.

Podemos pensar em outras tantas etapas, pois novas situações sempre demandam adaptações e, em cada uma delas, devemos nos atentar aos cuidados, limites, encorajamentos e às sutilezas das diferentes maneiras de expressão dos estranhamentos, desconfortos e incertezas.

por Ana Paula Yazbek