O momento da despedida entre a criança e seu familiar costuma demandar uma atenção especial no cotidiano dos espaços educativos. É muito comum os adultos quererem sair sem se despedir das crianças, porque acham que deste jeito ela não irá sentir tanto e assim será melhor. Alegam que quando percebem que a criança está distraída, aproveitam para sair de mansinho, sem que ela perceba.
Apesar de parecer mais desconfortável, consideramos que quando ocorre a despedida real, mesmo que a criança chore, demonstre estranhamento, recusa ou desconforto, estabelece-se com ela o jogo da verdade e do respeito, no qual os sentimentos podem ser expressos e legitimados, dando-lhe o direito de sinalizar seu desconforto. O familiar se despede, o choro acontece e os pais delegam para a escola os cuidados com o(a) filho(a), como se dissessem “agora eu preciso fazer coisas de adultos e enquanto isso, você irá brincar e aprender coisas interessantes para crianças de sua idade; ficará sob os cuidados de seu(a) educador(a) e depois voltaremos para buscá-la!”. Transmitindo para a criança a confiança da escolha que fizeram, como se dissessem “pode ficar aqui tranquilamente, nós escolhemos este lugar porque sabemos que você será bem acolhido e fará coisas muito legais”.
Assim, a escola e seus(as) educadores(as) assumem uma responsabilidade muito grande e de muito respeito com esta família e com esta criança, passando a fazer parte de seu cotidiano, proporcionando novas experiências e aprendizagens.
Em alguns espaços educativos é comum que depois da despedida, os(as) educadores(as) procurem distraí-las, mudando seu foco de atenção. Mas, por trás dessa ideia de distração, existe uma concepção de que a criança não tem condições de entender o que se passa ao seu redor, ou de minimizar/banalizar o que a ela está vivenciando. Além disso, a escola de educação infantil, não é um local de distração, é um lugar de vida, de presentificação, lugar em que a criança se diverte, aprende, se relaciona, disputa, enfrenta desafios. É um lugar em que os sentimentos e as pessoas fazem parte.
As crianças não precisam ser distraídas, elas precisam entender e perceber que estão ali, que existe uma nova presença, um novo lugar, que existem outras pessoas e que estas pessoas estão conectadas a elas. Além disso, neste período passarão por experiências que vão progressivamente ganhando um maior sentido.
Quando a criança permanece chorando, é importante conversar com ela, mostrando-lhe que seu familiar continua existindo, mesmo longe: “você está chamando seu papai, o João, agora ele foi trabalhar, ele está indo para o escritório…”. Quanto mais referência o(a) educador(a) puder transmitir à criança sobre o pai, (onde ele está, qual roupa está usando, como se desloca pela cidade, enfim, informações que ajudem a criança a compreender que está se falando efetivamente de seu pai), mais ela poderá se sentir segura sob seus cuidados. É importante também dar informações sobre quando se dará o retorno (quando estiver escuro, depois de comer, depois de ouvir uma história…), bem como dizer quem estará com elas ao longo deste período, nomeando quem serão essas pessoas (adultos e crianças) e antecipar o que irá acontecer durante o dia: mostrar os espaços e materiais que serão usados, de forma a instigá-las a participar ativamente desta nova rotina.
Estas referências de ações que se repetem neste novo cotidiano, as ajudam a prever o que irá acontecer com elas. e com isso a criança fica mais abastecida emocionalmente para lidar com a separação, tornando o desconhecido, conhecido, construindo um sentido próprio de estar ali.
Assim, entendemos que é papel da família e da escola valorizar a criança, sua competência e sua capacidade, considerando os saberes e competências dos profissionais para conduzir bem este processo de despedida. A escola é um lugar de reconhecimento da criança como um sujeito, por isso não cabe distrai-la frente situações importantes que estão acontecendo com ela. Afinal, estar num espaço educativo configura-se como um marco em seu crescimento.
Por Ana Paula Yazbek