Por Ana Paula Yazbek | Diretora pedagógica
Em abril, eu e Marcinha Oliveira, realizamos uma viagem pedagógica para Itália e em nossa bagagem trouxemos muitas ideias e reflexões para o trabalho que realizamos no espaço ekoa.
Vimos que palavras que estão se esvaziando na educação por se tornarem jargões, ficam repletas de sentidos quando conhecemos de perto as experiências italianas em educação infantil.
Lá as crianças são realmente consideradas POTENTES. Seus gestos, ações, escolhas, percursos são levados aà sério. Elas tomam decisões, ocupam as ruas, erram, acertam e têm seus saberes compartilhados com toda comunidade. Do chão aos tetos, as paredes das escolas comunicam os percursos de suas aprendizagens. Não há banalização de seus fazeres e brincar, aprender e criar compõem um cotidiano pulsante e desafiador, tanto para as crianças, como para os educadores e educadoras.
Os detalhes e a estética são valores incontestáveis e um direito de todas e todos que compõem as escolas. Não há uma refeição sem um vaso de flor no centro da mesa. Há vasos de plantas nas áreas internas e salas e os mais diferentes objetos, desde brinquedos e acessórios, até equipamentos eletrônicos, ficam acessíveis às crianças.
Não há temperatura, nem clima que impeça as crianças de irem ao ar livre. Lá elas não adoecem com “golpes de ar”. Consideram que se estiverem com roupas adequadas, estarão protegidas da chuva, do frio ou do calor. As cidades são amigáveis e as escolas abrem seus portões para que elas ocupem as ruas.
Na região de Reggio Emília, as escolas são públicas e o conselho gestor de cada uma é formado pelo diretor, cozinheira, um familiar e um representante do bairro, que muitas vezes não é alguém que tenha filho na escola. Juntos buscam formas de cuidar e integrar as crianças com o entorno. As “piazzas” são ocupadas numa extensão natural das escolas. As crianças plantam árvores, propõem mudanças e se precisarem convocam autoridades para fazer alguma reivindicação. E, são ESCUTADAS!
Em Milão, a segunda maior cidade da Itália, vimos tratores pararem de funcionar para não fazerem barulho para as crianças de menos de três anos, enquanto elas ocupavam uma praça. E acompanhamos, também, um grupo de quinze crianças de três a cinco anos, saírem acompanhadas por três professoras, caminharem pelas ruas, tomarem transporte público, para visitarem a “escola dos grandes”, como elas se referiam à Universidade de Milão. Nas ruas, as pessoas paravam para interagir com elas, com INTERESSE GENUÍNO pelo que estavam fazendo. As professoras confiam em sua capacidade de se deslocarem em segurança e antes de saírem davam instruções básicas sobre como deviam se comportar e se organizar para o passeio:
— Vamos sair, vocês precisam vestir seus casacos porque a temperatura está baixa. Deem as mãos para um colega e andem em fila. Lembrem quem está à sua frente, pois vamos seguir nesta ordem na maior parte do caminho. Como a universidade é longe não dá para parar para observar borboletas que encontrem pelo caminho! Pronto! Andiamo!
E, foi assim que nós voltamos: embebidas por estas e outras tantas experiências e nos perguntando sobre o que faz sentido fazermos aqui, como podemos ocupar a cidade de São Paulo com nossas crianças?
Topam pensar sobre isso?
Andiamo!